domingo, 29 de março de 2009

Obrigada, Diogo*

Não partilho nada, quando dizes que este não é um espaço de partilha de música. Se tantas vezes é aquilo que ajuda a ditar o nosso estado de espírito, e outras tantas é o seu reflexo, porque não partilhá-lo?

Além do mais, elas são tão giras...




* Obrigada Diogo, não pela caixa de camarão-tigre,
mas pela partilha. Dia 16 no Santiago Alquimista.
O Korzo ganhou nome. Deixou de ser aquele lugar novo que descobri por acaso. Passou a ser O lugar.
A ideia de ir para um país novo sem conhecer ninguém por lá, fazia-me pensar que ia ter muito tempo para mim e para as minhas deambulações solitárias. Tempo para pôr a cabeça em ordem, ler e discutir comigo mesmo o que ando a fazer por aqui. Mas a verdade é que nada disso aconteceu. Quando se vive com mais quatro rapazes, num prédio de estudantes é impossível estar muito tempo sozinho e é impossível parar. Faculdade, passeios, festas ou cafés. Há sempre algum plano.
No entanto, Sexta-feira não queria fazer só aquilo que já passou a ser uma rotina: ir à pré-festa e à festa e depois deprimir no dia a seguir com os trabalhos todos para entregar.
Então fui sozinho ao Korzo.
Sexta fez exactamente dois meses que cheguei à Holanda e foi a primeira vez que fiz alguma coisa sozinho. E soube-me muito, muito bem. Tanto que me deu tempo para pensar em vocês. Vi um dos espectáculos mais fortes de sempre. Senti qualquer coisa.
Depois voltei a Asstraat, fui à pré-festa e à festa. E no Sábado não me senti mal com o trabalho.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Quem disse que em Erasmus não se trabalhava?

terça-feira, 24 de março de 2009

Hoje o meu entusiasmo (para além do estudo de econometria, cujo teste é amanhã), passa por aqui:


Caros amigos, amigas, familiares e seres sobrenaturais que lêem este blog: ontem tive o meu pior e mais infeliz dia neste meu Erasmus. Amanheceu escuro e nublado. Fui para a faculdade sem tomar banho e sem fazer a barba há três dias. Vestia uma camisa do meu pai aos quadrados azuis e um casaco verde-tropa, com as calças e os ténis do costume. Sentia-se sujo e feio. Entrei sem vontade na pior cadeira do trimestre: Marketing. A professora chinoca que tanto me agradou nos primeiros dias, revelou-se nas,últimas semanas, a maior bitch de sempre. Chumbámos no primeiro trabalho com 4,5. Precisávamos de 5 para passar. Vamos ter que reescrever aquela treta pró-capitalista toda de novo + outro projecto + uma apresentação estilo Pecha Kucha. (Se estão pensar que m***da é essa, não se preocupem) Apresentação estilo PECHA KUCHA???? É nestas alturas que adoro ser português e dizer todos os palavrões sem ninguém me perceber.

Hoje sinto-me melhor, avançámos no projecto e acordei com sol. (Omito o facto de ter chuvido a tarde toda).
Mas não quero estranhar a bonita imagem de Haia que ando a tentar transmitir... portanto presenteio-vos com o mais recente vídeo dos Coldplay inteiramente filmado na Haia. Podem ver os nossos eléctricos, o palácio da rainha, o palácio da paz, a igreja medieval e a praia onde vou todos os fins-de-semana... (Mas... "Garota rock inglês eu não combino com você / Eu não leio Byron, nem escuto coldplay..." lalala com sotaque brasileiro)



Sim... é infeliz... mas ás vezes é mesmo assim... (não sei se esta é a melhor forma de promover o turismo de Haia, mas... fiz a minha tentativa... espero por vocês para fazermos os percurso do Chris Martin...) (RRRRRRRRRRR) (bimbalhada)

domingo, 22 de março de 2009

Pós-21 de Março: o alívio

O Almoço dos Amigos dos Pioneiros foi ontem.
Passou-me um bocado ao lado, e nem sequer sei dizer se correu bem. Há rumores que dizem que sim.

Foi uma manhã agitada, em que se andou de um lado para o outro a tratar do vinho, das flores, das mesas, da decoração, da intervenção, da banca, da loiça e dos talheres, da exposição, da limpeza, da isto e d'aquilo. Mas sempre com boa-disposição.

Quando disse ao Rui que o Almoço me tinha passado ao lado (sendo que isto é em sentido figurado, porque eu estive efectivamente no almoço o tempo todo), ele disse-me: "É normal. É como a Festa!. Também não a fazemos para nós, mas para os outros". Sem falsas pretensões de "ai que somos todos tão bonzinhos", isto é mesmo verdade. Sabermos que, depois do trabalho, do esforço e do "sacrifício pessoal", o resultado foi apreciado, e que tocámos toda aquela gente, que há quase 30 anos não tinha contacto algum com os Pioneiros, é a melhor sensação que há. Compensa.

Rapaz de Haia, quantas vezes me perguntaste "Porquê?"... Acho que é por isto, ainda que esta satisfação só venha depois, e que nos entremeios sinta mais o peso da responsabilidade do que outra coisa.
A intervenção correu bem. Estava nervosa, e com pouca vontade de pegar no microfone ("Mas já Jorge?"," Já vou, Jorge...", "Mas é para ir já já?"). Gaguejei, troquei-me um bocado, devo ter dado inúmeras caneladas à Língua Portuguesa, mas acho que correu bem. A D. Mariana ficou, obviamente, a chorar. :)

Depois cantou-se a música dos Pioneiros. Nessa altura foi a minha vez de chorar. 100 pessoas a olhar para a letra projectada na parede, a cantarem a canção em uníssono, a baterem palmas e algumas a dançarem... que bónito! (a Ana Gusmão nesta altura está a dizer: uuuuiiii que paniiiisssgass!).

Depois do almoço, é hora de arrumar e de limpar, e de reunião na casa do Pioneiro (sempre a bboommbar, qu'isto não pára). A seguir fomos ver A Mãe, à Culturgest. Eu sou uma vergonha intelectual. Aquilo era tão bom, tão bem feito, e uma adaptação de um dos meus livros preferidos, e eu (shame on me, shame on me), ADORMECI! Estava tão cansada, e a debater-me com o sono, que ora ia adormecendo ora ia acordando... Tenho vontade de ir lá outra vez hoje, para ver tudo do princípio ao fim!

Estou ansiosa por ir aí.

sábado, 21 de março de 2009

Lição de filosofia barata: "Basta procurar e todos os dias encontrará algo novo".
Tudo começou com um flyer que apanhei na biblioteca. Korzo5Hoog. É um centro de arte moderna. Melhor, um centro de performance, dança, teatro. Então hoje, pus a minha camisa aos quadrados e convenci a Joana e a Iro a virem comigo ver qualquer coisa. "Everybody Happy". Cheguei à pouco. O espaço fica perdido no meio da zona industrial de Haia, apenas a 5 minutos de bicicleta de minha casa. Entra-se no complexo, anda-se 100 metros, vira-se à direita e, onde pensava só haver fábricas, os néons apresentavam: Korzo Theater. A sala fica no 5 andar. O barulho do elevador combina com o ambiente industrial. Antes da peça, tivemos tempo para conhecer o bar que tem uma das melhores vistas sobre a aldeia.

A peça era sobre "felicidade", ou melhor, sobre sorrisos forçados. Felizmente, só disseram três frases e uma delas a Iro conseguiu traduzir: "Como estás?" (Hummm... fez-me lembrar alguma coisa...) Fiz também um sorriso, mas o meu foi sem esforço.

------------- Dado o momento, apesar de não querer tornar isto um blog de partilha de música,é verdade, os sons têm caras, e há músicas que nos ligam, e isso também faz parte da ponte, e quando ouvi esta música lembrei-me da Ana, e quando vi o clip, era totalmente a Ana... Ou pelo menos a minha interpretação dela. Então não resisto -----------------

Feliz ano novo!

Acordei tarde mas com um bonito sol a entrar pelas minhas três janelas! Tomei um banho longo para afastar a possibilidade de ressaca e o Kosmas convidou-me para me juntar a ele e ao Linus num café em Grote Market.
No caminho, encontrámos a Iro sem ter combinado nada.
É bom andar na rua e já ter os vizinhos e conhecidos a quem dizer 'Bom dia. Vivo numa aldeia!
Apanhámos duas horas de sol. E isso é especial e a empregada de mesa era ruiva.

Depois fui trabalhar para a biblioteca até às oito da noite. Quando saí, o termómetro marcava 6º. Mesmo assim, não queria ir para casa. Então, peguei na minha bicicleta, e fui passear. Até àquele momento, o meu limite era a Station Centraal. Haia começava na ali e acabava ao pé do mar. Mas hoje estava com esperança de descobrir alguma coisa nova e especial...
Pedalei por quase uma hora num bairro novo. E não teve interesse nenhum. Uns quantos restaurantes engraçados e apenas casas, casas, ruas paralelas e perpendiculares, casas... Fiquei desapontado. Queria mesmo chegar à minha e dizer aos outros que andávamos a perder o melhor de Haia. Que tinha descoberto alguma coisa fantástica naquela zona. Mas não. Só apanhei frio.

Regressei a território conhecido. Apesar de desapontado, ainda não me apetecia voltar. Resolvi passear pelas ruas do centro da cidade até me dar a fome. Se ainda há umas horas estava tudo cheio de gente a aproveitar o sol, naquele momento, não havia ninguém a andar a pé. Só os restaurantes mantinham o mesmo espírito. E eu só queria ter alguém para ir a algum deles. Não fosse tão tarde para fazer convites... (Ou não estivesses tu em Lisboa...) e hoje ia comer fora. Apetecia-me sentar, olhar para a ementa, um restaurante italiano, demorar a decidir, pedir um qualquer tipo de pasta, esperar pela comida, beber vinho tinto, estar com mais alguém... Mas hoje só tive direito a ver os outros fazer isso tudo. Parava à porta de alguns para ver o ambiente... e nunca entrava.

Depois aconteceu. A fome começava a apertar e estava finalmente decidido a voltar para casa. Mas comecei a ouvir o som de uns tambores, e vozes de muita gente. Parecia uma manifestação. Pedalei no sentido do som que ia aumentando de volume. E já não eram só tambores, uma espécie de flauta também se fazia ouvir. Encantadores de serpentes?
Duas ruas à frente há uma praça que se chama Rond de Grote Kerk cuja tradução literal é à volta da grande igreja. Hoje, havia, nessa praça, uma fogueira acesa por um grupo de umas 100 ou 200 pessoas. Não era uma multidão mas tinha força para isso. Dez homens dançavam ao som do tambor, que afinal era só um, e da flauta, que também era só uma. De braços dados, dançavam em conjunto. De vez em quando, um deles vinha à frente e seguia o ritmo sozinho. Sentia-me nas arábias. Perguntei a um rapaz, ao meu lado, o que se passava. Era o ano novo dos curdos. - Aquelas são bandeiras do Curdistão. Festa curda na minha aldeia, mesmo em frente à igreja católica. Fiz-me convidado! Por algum tempo, encostei-me à fogueira, senti-me feliz com eles, aplaudi. Soubesse eu como dançar, e ter-me-ia juntado à dança. Já não estava sozinho. Hoje é o dia de novo ano. Mas não quero pedir qualquer desejo, nem faço anos!

sexta-feira, 20 de março de 2009

20 e 21 de Março de 2009

Começou assim:

Esta foi a dinner party e depois houve a pre-party em Risky whisky para comemorar os anos do Stef, um rapaz belga, e depois uma outra ida ao paard van troje até a música acabar e depois pizza de cogumelos e depois meia hora a andar até casa e depois já era dia outra vez.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Há dias em que tenho surpresas para ti...

Voo TP0662
Lisboa-Amesterdão
29 de Abril
Lisboa: 19h20
Amesterdão: 23h15

Voo TP0661
Amesterdão-Lisboa
4 de Maio
Amesterdão:19h00
Lisboa: 21h00

Já o tenho! :)

terça-feira, 17 de março de 2009



I'm far gone but your long distance call
And your capital letters keep me asking for more

segunda-feira, 16 de março de 2009

Esse parvalhão do Taborda disse que tinhamos perdido o jogo (e agora voltaram a perder, que fixe!), mas na realidade queria dizer "oh minha gente, que vocês são tão giros e interessantes, e eu tenho tantas saudades vossas que estou aqui-que-não-me-aguento. Além disso a Ana ameaçou-me com um pontapé na pilinha se não nos víssemos na semana passada, e como não isso não aconteceu mesmo, estou com medo". Mais vírgula menos vírgula, era o que o Taborda queria dizer com "perderam o jogo". Sei-o porque já o conheço há muitos anos, e portanto ele é um livro aberto para mim.

Como estás tu Índio?

Previsão para 2ª Feira, 16 de Março de 2009
Céu geralmente limpo, apresentando-se temporariamente muito nubladopor nuvens altas na região Sul.
Vento em geral fraco (inferior a 20 km/h) predominando de leste,temporariamente de noroeste na faixa costeira ocidental.
No Algarve, vento moderado a forte (25 a 45 km/h), com rajadasda ordem dos 70 km/h no final do dia.
Pequena subida da temperatura máxima.

ESTADO DO MAR
Costa Ocidental:Ondas de noroeste com 1 a 1,5 m.
Temperatura da água do mar: 14/15ºC
Costa Sul:Ondas de sueste com 1,5 m, aumentando para 2 a 2,5 m.
Temperatura da água do mar: 16ºC

TEMPERATURAS MÁXIMAS PREVISTAS:
PORTO - 26ºC
LISBOA - 27ºC
FARO - 21ºC

Faz calor em Lisboa.

Mas não temos pre-party, party e pos-party. Por cá é mais do tipo... copos de tinto com pipocas e doritos e conversê no Loucos e Sonhadores com o David, sendo que substituimos a bicicleta pelo 201 no processo de regresso a casa. Ou então fins-de-semana de alto marranço com a Maryanne ou no café de Algés, ou à beira-mar na Torre.

Entretanto falta menos de uma semana para o Almoço dos Amigos dos Pioneiros, já estamos perto das 60 pessoas, e ando um bocado... em pânico com a perspectiva de ter de fazer a intervenção no almoço. Nunca escrevi nenhuma, nem a fiz, com a agravante que são poucas as pessoas que me conhecem (bbbaaahh....wish me luck, my friend).

Com saudades.

domingo, 15 de março de 2009

...

PERDERAM O JOGO!!!!!!
Tenho a impressão de andar a viver com uma banda sonora. As ruas não são apenas isso. Parece que o olhar das pessoas me é dirigido. E elas sorriem. Às vezes, por entendimento, outras vezes por compaixão. Começo a ganhar a minha rotina. O estudo, os passeios, o café e as festas. Já me acontece ir sozinho ao centro de Haia e dizer 'Olá a duas ou três pessoas. A sensação de estrangeiro já não é tão intensa. Tenho o cartão de descontos do Albert Heijn e faço compras no Super de Boer. Reconheço "o meu café" com esplanada e fonte para os dias sol. E ontem, acho que encontrei "o meu bar".
Estava com o resto dos Erasmus no café do Paard van Troije quando era suposto mudarmo-nos para o Havana, que é uma das maiores discotecas em Haia, com Salsa às segundas-feiras e tralha sonora no resto dos dias...
- Não. O meu espírito estava muito longe de qualquer ambiente com demasiada gente arranjada. Tenho saudades da sujidade, do calor e dos graffitis do Bairro Alto.
Sugeri ao Panos e à Lily irmos descobrir alguma coisa nova.
Íamos, então, em direcção do Peace Palace quando vimos dois saxofones e dois rapazes a tocá-los na montra de um café. Entrámos. Smokers. Uma empregada de cinquenta anos e cabelo laranja que não falava muito bem inglês. Três copos de vinho. Acabou o jazz dos dois rapazes e começou a tocar música francesa... E -Sim, continuo na terra dos clichés! Parecia Paris de novo... e de novo conversas surrealistas. É bom regressar a casa de bicicleta, o vento garante que tudo aquilo foi real. Não sabia que Haia tinha coisas daquelas... Gosto.

sábado, 14 de março de 2009

[Antes de ontem, tivemos direito a pre-party (como já era de esperar interrompida pela simpática presença da polícia holandesa), a party (electro-nice até o paard van troije fechar)e a pos-party (inesperada e sem muito sentido, na casa de um belga, com direito a parlapier surrealista até o sol aparecer para nos mandar pa cama).
Ontem fiquei-me só pela pre-party e por metade de um filme-propaganda-pró-neo-conservadorismo, na sessão da meia-noite, da belíssima sala de cinema que é o meu quarto. RESULTADO: Hoje tenho de estudar as relações EUA-URSS e a sua influência no processo de Integração Europeia. Belissimo!]

Há uma música que me faz lembrar os saguins. Acho que tem um bocadinho de nós todos e não me canso de a ouvir:



O vídeo não está completo... faltam perto de dois minutos... será isso uma metáfora romântica para a nossa cruel separação??? ehehe Viva o sentimentalismo, meus putos!!!

quarta-feira, 11 de março de 2009

Pergunto-me até que ponto é importante celebrar datas. Se o sentimento está lá, de que serve o dia?
Mas é interessante pensar em nós há cinco anos atrás. Quanto mudou? Quantas expectativas ficaram por terra e quantas novas se criaram? Quantas vezes mudámos nós de campo, alterámo-nos, experienciámos outras formas de olhar para aquilo que alguns chamam vida? Sinto-me a correr à noite, com todo o medo e todo o fascínio que isso implica. As luzes viajam na direcção oposta à minha, subo a colina, olho para trás e vejo a mancha negra da foz. Os barcos e a ponte são pequenos focos. Tenho o cheiro do vento, a pele eriçada pelo frio e pelos nervos, água na boca, desejo. Encontro-me mais próximo ou mais afastado de ti? E de mim?
O que significa este dia? Ele não marca nem o início nem o fim de coisa nenhuma... Talvez o tenhamos só para preencher uma necessidade humana: o reconhecimento. Hoje, ontem, amanhã. Tudo tem um nome e uma explicação. O mundo de hoje é apenas um catálogo. Não quero escolher a peça errada. Não quero simulacro vida, quero arte. Se te tenho ao pé de mim, não é só para consolo de mim mesmo. É para viver contigo e te ver mudar e cortar o cabelo.
É na ausência que se dá valor ao Fado. Palavra. Hoje acordei cedo com o técnico de campainhas a bater-me à porta, olhei para o dia, estava sol outra vez! Pus o meu equipamento e fui à procura de um parque novo. Quando ouvi o Fado, vieram-me duas lágrimas aos olhos. Assumi que era do vento.
Na vida não há experiência, há vida. Não quero continuar a perpetuar a ideia de que é só para ver como é. Enquanto vejo, sou. Sou um cidadão da Haia. Apanhei o eléctrico 17 debaixo de um grau negativo, dirigi-me ao serviço de imigração da câmara e agora eles têm os meus registos. Burocraticamente, sou daqui. Mas percebo cada vez melhor o que é ser daí. Hei-de voltar, como os outros emigrantes, no "meu querido mês de Agosto". E nós? O que somos na ausência física e na pouca qualidade do teu microfone quando falamos no skype? A liberdade de estar longe faz-nos estar ainda mais próximos daquilo que nos prendia. A cultura, a amizade e o café. Hoje, com sol, sentei-me "na minha esplanada", bebi um café longo, abri o meu livro... fiz por construir o meu próprio cliché. Sozinho, contente por apreciar o momento. Mas, no fundo de mim, pensava em ti, na tua suave presença, nas perguntas que me farias e, de repente, o meu livro já não fazia sentido. Era a tua presença e o teu olhar de dúvida que eu queria. Por isso é bom estar longe e ter estes momentos. É bom não me esquecer, embora faça por me manter calado. É o meu momento de fuga. Um descanso.
Gosto de ti.

terça-feira, 10 de março de 2009

Amanhã é dia 11 de Março!

(vê lá se a data te diz alguma coisa!)

Hoje o dia foi péssimo! Só telefonemas e pequenos problemas, e soluções a encontrar.
Foi um dia chato e que me deixou chateada.

Depois fui correr. E foi libertador!
As pernas não queriam parar, e corriam com mais velocidade do que o costume. Efeitos ou da lua cheia, ou da chegada da Primavera às 7 Colinas, que faz as pessoas mais bonitas. (Desculpa meter-te inveja, mas hoje, às 8 da noite, corri de t-shirt.)

Há dois meses que não me sentia tão bem.

"boa noite, amigos, companheiros, camaradas
a vida é feita de pequenos nadas
a vida é feita de pequenos nadas
...
E o que é certo
é que os que têm quase tudo
devem tudo aos que têm muito pouco
mas fechem bem esses ouvidos
que o melhor ainda é ser mouco
isto diz paternalmente
quem acha que é ponto assente
que isto nunca vai mudar
e que o melhor é começar a apanhar
umas chapadas
a vida é feita de pequenos nadas "*
*Sérgio Godinho
Quarta-feira aprendi que os brasileiros pensam que strogonoff é uma comida típica do Brasil. Se é ou não, pouco importa, o jantar étnico estava uma pequena maravilha, a fazer lembrar as noites de Santos se substituíssemos a bela música do Vacas por samba, pauliteiros e danças gregas. (Comi 6 brigadeiros sem ficar com borbulhas no outro dia!)

Quinta-feira, como já é costume, a pre-party organizada no centro de Haia, por Erasmus de outra residência, acabou com a polícia à porta a dizer shhhh! É sempre divertido e é uma boa maneira de não corrermos o risco da pré-festa se alongar demasiado e depois não termos direito à festa em si! Fomos ao Paard (cavalo) van (de) Troje (Tróia) (o meu neerlandês está a fazer progressos) que, por sinal, é o melhor estabelecimento de diversão nocturna da "international city of peace and justice". Posso dizer que foi a melhor noite de Erasmus, com a melhor música e a melhor companhia. Como rebuçadinho passaram duas vezes A-punk dos Vampire Weekend que, por coincidência, ando a ouvir em repeat! Estado eléctrico. Apetece-me repetir mais uma vez a palavra "melhor".

Sábado fomos jantar fora a uma espécie de quasi-pronti versão asiática. A Hero disse que ia aparecer com mais uma rapariga e... fiz a minha primeira amiga sul-coreana! Acho que me apaixonei.... nicole, lily, joana, hero, panos e erikos, todos nós fotografados pela nossa sul-coreanarecordação luso-coreanaDomingo andei a aproveitar o sol, na praia, o céu azul e uns agradáveis 7-8 graus! Iniciei o meu estudo em cafés holandeses. O primeiro alvo foi certeiro: um macchiato a dois passos do palácio da rainha. Depois um chá de menta, ao final da tarde, nas esplanadas junto ao parlamento, com uma mexicana, um estudante de medicina belga, a Joana e, como não podia deixar de ser... dois gregos! O sol foi-se embora e começou a maior tempestade desde que cheguei à Holanda, cheguei a casa a pingar. A noite de segunda-feira ficou instituída como aquela em que eu e o Panos vamos sozinhos a Grote Markt para relaxar um pouco depois do primeiro dia de aulas! Como os outros preferem sempre ficar em casa, as esplanadas de segunda à noite estão meio vazias e é perfeito para ficar à conversa com um amigo... desta vez ninguém se sentou ao nosso lado.

Hoje tenho de trabalhar...

terça-feira, 3 de março de 2009

A carta devolvida

A semana passada chegou devolvida a carta que te enviei ainda tu não estavas sequer a pensar em começar a fazer a mala para Haia. Supostamente deveria chegar antes de ti, mas perdeu-se no caminho, e regressou às minhas mãos.

Deixo-a aqui escrita, para já agora tu leres (mesmo que já esteja fora do contexto):

«
Biblioteca de Algés,
(nem sei a que dia vamos, mas consulto o telemóvel, e...)
21 de Janeiro de 2009,
Quarta feira,
e falta menos de uma semana para ires para as Netherlands.

Não era da biblioteca de Algés de onde te queria escrever. Era antes de algum sítio típico de Lisboa, tipo Chapitô (que não é muito típico, mas é bonito), ou Miradouro de Santa Luzia, ou Senhora do Monte, ou de ontro sítio qualquer onde me imaginasses a escrever esta carta, e pudesses sentir o cheiro a Lisboa (em vez do cheiro da biblioteca de Algés).
Quando esta carta te encontrar (e espero que te encontre mesmo, que não chegue antes de ti e por isso venha de regresso às 7 colinas), já tu estarás nesse país que farás de conta que é teu durante os próximos 6 meses.
Nesta altura, imagino que te terás sentido nervoso toda a segunda, que te terás sentido nostálgico por deixares os churrascos do teu pai, as bolachas de chocolate que a tua mãe compra no Jumbo (ou no sábado ou no domingo, já que lá vais quer num dia quer no outro), o plasma do quarto da tua irmã, as discussões entre o teu primo e a tua avó (pois, pois!...).
De segunda para terça mal terás dormido: cá por mim rebolaste na cama durante horas, a pensar que não te podes esquecer de nenhum papel nem do bilhete de avião, a pensar no que irás lá encontrar, e que vais ter de ser tu a lavar as tuas meias e cuecas durante meses.
Na madrugada de terça terás a sensação, ao sair de casa rumo ao aeroporto, que deixaste alguma coisa para trás (aposto que não levaste a tua almofada com uma botija de água quente lá dentro, a que te ofereci pelo Natal!).
Imagino-te agora no avião: ele a subir, a subir, e tu a veres Lisboa cada vez mais pequenina, mais pequenina, mais pequenina, a dizeres adeus enquanto acenas.
E, umas horas depois, a veres haia cada vez maior, cada vez maior, cada vez maior, com um sorriso para lá de grande.
Aí só te esperam coisas boas: gente bonita à farta, cinema, teatro, exposições (mas tudo em holandês, o que é que julgas?!) diferentes todas as semanas, todos os dias, em vários espaços, lugares e becos. Discutirás em inglês o Obama, a globalização, o consumismo, o Ocidente e o Oriente, Portugal, a União Europeia, África, o comunismo, o facto de uma amiga tua ser comunista, o capitalismo, as crises do capitalismo, a ecologia, a reciclagem, o Mundo.
Discutirás em inglês com um holandês, um italiano, um sueco, uma dinamarquesa e a amiga finlandesa, com um japonês, uma muçulmana linda de véu e olhos pintados, um americano anti-América.
Discutirás com todos ao mesmo tempo e um de cada vez, em inglês, arriscando as três palavras em holandês que sabes, e arranhando o teu mau francês para mostrares que sabes falar francês.
Comprarás bolachas de chocolate, das mais baratas que houver (que são caras na mesma), comerás muita lasanha congelada e chegarás mais gordo a Lisboa.
Andarás muito de bicicleta. Conhecerás tudo de bicicleta. E se calhar não chegarás mais gordo a Lisboa.
Chegarás mais feliz.
Mais culto.
Chegarás mais velho, mais maturo.
Chegarás sabendo lavar as tuas meias e cuecas.
Mas sei que chegarás mais tu. Mais parecido contigo próprio.
Sei que encontrarás o que seja que andes à procura, aí nas Terras Planas.

Consigo ser egoísta o suficiente para te dizer que te foste embora na pior altura.
Disseste-me que era bom estar sozinha e não me disseste como se fazia.
Agora que te sentes culpado, digo-te: se calhar é melhor assim. "Olha, Ana, agora estás mesmo por tua conta. Não terás de lavar a tua roupa interior durante 6 meses, mas não tens muletas, elas embarcaram num vôo da Easyjet por 100 euros para o Norte da Europa - agora vira-te!"
E vou virar-me, ora pois!
Assim, cá fica por escrito a intenção de, nos próximos meses, ser presença assídua dos teatros, cinemas e salas de espetáculos desta capital!

è bom ter-te na minha vida.

Entretanto, chega a hora das recomendações:
-Não te percas demasiado
- não te esqueças da carteira não sei aonde
- actualiza o blog
- manda cartas, que eu nunca recebo cartas pelo correio
- come fruta e bebe leite
-modera o alcóol e o tabaco
- fuma português suave
-estuda alguma coisa

Boa sorte.
Um beijo grande, com barulho, e um abraço apertado,
Ana

ps: daqui a uns meses convida-me para ir aí, ok?

»

Bem, aqui está ela.
Acabámos de fazer as nossas leituras e fui com o Panos a Grote Markt. É segunda-feira, não estava muita gente. Sentámo-nos na esplanada por causa dos cigarros. Os 6 graus fizeram com que não tivéssemos companhia lá fora (por algum tempo). As conversas com o Panos vão sempre parar em politiquices, anarquistas, revoluções atenienses, modos de estar e de ser no sul da Europa. Percebo que temos muitas coisas em comum, mas também, diferenças abissais e tento explicar-lhe, sem muito sucesso, o que é fazer parte de um povo de brandos costumes. Temos o Atlântico e é isso que nos faz ser assim. A Walkiria disse-me que comprou, em Bruxelas, um postal que explicava o que é ser europeu através de cartoons... e o português era um homem a olhar para o mar com se lhe estivesse a fazer continência. Somos assim. E isso faz-me ter sentimentos demasiado contraditórios em relação ao meu país. A nossa espera eterna seduz-me de morte: encontro nela um romantismo tão único, tão nosso, tanta canela e pôr-do-sol de mãos dadas a lavrar a terra... Mas depois esse romantismo confunde-se facilmente com perguicites, tretas e a mais enfadonha das banalidades. Precisávamos tanto de um outro abanão... desta vez, um que não fosse físico. Mas não estou disposto a começá-lo. Pelo menos por agora. Não sei onde me situo em relação a mim mesmo, à minha mãe-pátria... Mas percebo cada vez mais que sou daí. Também prefiro ir à procura do que encontrar. Ter é uma enorme chatice... mas viajar (ai, viajar!) é ter o nosso verdadeiro sangue. É ter toda a aventura e bel-prazer sem qualquer espécie de comprometimento, a não ser o comprometimento com a própria viagem. A nossa bravura embrulha uma cobardia que não se consegue esconder. Irrita-me reconhecer em mim tantas características do meu povo. Mas, ao mesmo tempo, conforta-me.
Estávamos a falar sobre teatro e a vinda do David a Haia, a meio de Abril, quando um rapaz de óculos, cabelo loiro pelos ombros, casaco de malha, nos pergunta se se pode sentar na nossa mesa. Olhámos em volta, estavam todas as outras vazias. Mas OK, tudo bem. Ele ficou ao lado do Panos e a mulher que vinha com ele, ao meu lado. No mínimo estranho... Continuámos a nossa conversa, embora um pouco constrangidos por aquela presença tão próxima. Falavam em inglês um com o outro. Como é óbvio tentei perceber qual era o assunto deles, mas era impossível continuar a seguir o que o Panos dizia e ouvir a conversa alheia, ao mesmo tempo.
Ao fim de cinco minutos, aquele despropósito tornou-se insustentável. E o rapaz, com uma enorme naturalidade, pergunta-nos sobre o que estávamos a falar. Ela: 'vá, de um a seis, como avaliam a vossa conversa?' ( -O Quê?)
Acontece todos os dias falarmos com estranhos... mas nunca assim. Repito: todas as outras mesas da esplanada estavam vazias e, de repente, tínhamos uma linda mulher a pedir-nos para avaliar-mos a nossa conversa numa escala de 1 a 6.
Ela tinha uns olhos perfeitamente verdes. E o cabelo escuro. Devia estar nos seus trintas, ele '10 anos mais novo, mas 10 vezes mais sábio'. A conversa que estava a ter com o Panos transforma-se, então, em duas conversas. Eu e ela, a Nicola, e ele e o rapaz, o norueguês. Ela era irlandesa e trabalhava no 'Tribunal Criminal' e ele estudava música no conservatório. Da situação no Terceiro Mundo, ao nosso cinismo de esplanada, terminando com algumas considerações sobre sadomasoquismo, senti que ela mudava de assunto em cada frase. Ele desistiu de falar pouco tempo depois de ter começado. Por azar (ou por sorte) o bar não tardou em fechar. Voltámos a Asstraat de bicicleta, a rir-nos à parva e a perguntar: quem eram aquelas pessoas?

domingo, 1 de março de 2009

Obviamente que é domingo.

Volta a chover do lado de cá da ponte.

(obrigada por teres trocado notícias de Paris por desabafos lamechas)