quarta-feira, 11 de março de 2009

Pergunto-me até que ponto é importante celebrar datas. Se o sentimento está lá, de que serve o dia?
Mas é interessante pensar em nós há cinco anos atrás. Quanto mudou? Quantas expectativas ficaram por terra e quantas novas se criaram? Quantas vezes mudámos nós de campo, alterámo-nos, experienciámos outras formas de olhar para aquilo que alguns chamam vida? Sinto-me a correr à noite, com todo o medo e todo o fascínio que isso implica. As luzes viajam na direcção oposta à minha, subo a colina, olho para trás e vejo a mancha negra da foz. Os barcos e a ponte são pequenos focos. Tenho o cheiro do vento, a pele eriçada pelo frio e pelos nervos, água na boca, desejo. Encontro-me mais próximo ou mais afastado de ti? E de mim?
O que significa este dia? Ele não marca nem o início nem o fim de coisa nenhuma... Talvez o tenhamos só para preencher uma necessidade humana: o reconhecimento. Hoje, ontem, amanhã. Tudo tem um nome e uma explicação. O mundo de hoje é apenas um catálogo. Não quero escolher a peça errada. Não quero simulacro vida, quero arte. Se te tenho ao pé de mim, não é só para consolo de mim mesmo. É para viver contigo e te ver mudar e cortar o cabelo.
É na ausência que se dá valor ao Fado. Palavra. Hoje acordei cedo com o técnico de campainhas a bater-me à porta, olhei para o dia, estava sol outra vez! Pus o meu equipamento e fui à procura de um parque novo. Quando ouvi o Fado, vieram-me duas lágrimas aos olhos. Assumi que era do vento.
Na vida não há experiência, há vida. Não quero continuar a perpetuar a ideia de que é só para ver como é. Enquanto vejo, sou. Sou um cidadão da Haia. Apanhei o eléctrico 17 debaixo de um grau negativo, dirigi-me ao serviço de imigração da câmara e agora eles têm os meus registos. Burocraticamente, sou daqui. Mas percebo cada vez melhor o que é ser daí. Hei-de voltar, como os outros emigrantes, no "meu querido mês de Agosto". E nós? O que somos na ausência física e na pouca qualidade do teu microfone quando falamos no skype? A liberdade de estar longe faz-nos estar ainda mais próximos daquilo que nos prendia. A cultura, a amizade e o café. Hoje, com sol, sentei-me "na minha esplanada", bebi um café longo, abri o meu livro... fiz por construir o meu próprio cliché. Sozinho, contente por apreciar o momento. Mas, no fundo de mim, pensava em ti, na tua suave presença, nas perguntas que me farias e, de repente, o meu livro já não fazia sentido. Era a tua presença e o teu olhar de dúvida que eu queria. Por isso é bom estar longe e ter estes momentos. É bom não me esquecer, embora faça por me manter calado. É o meu momento de fuga. Um descanso.
Gosto de ti.

2 comentários:

  1. uffaa... não soube muito bem como havia de reagir.
    Reli.
    Percebo quando deixaste apenas um ":)". E a coisa mais bonita que nós temos, é que também eu poderia deixar apenas um ":)",que sei que tu entenderias o que ele queria dizer.

    Sinto-me tão perto de ti. Chega a ser estranho...

    Um dia vivemos debaixo do mesmo tecto.

    ResponderEliminar
  2. :) sabia que sentias assim, mas não sabia que escrevias assim... és dos rapazes mais bonitos que já conheci! Tenho saudades tuas...

    Nunca mais soube nada de ti, hoje abri a conta de hotmail e vi por baixo "Entrelisboaehaia" Sorri... Não resisti, abri a janela e vim cá espreitar!

    Um beijinho grande, mesmo grande. Não há quase um dia que não pense como estarás...

    Joana Júdice, aquela rapariga estranha e inesperada ;P

    ResponderEliminar