quarta-feira, 22 de abril de 2009

Tinha 17 anos na primeira vez em que fui ao cinema sozinho. Era um filme chinês, "Natureza Morta", que contava a história de um homem que andava em contra-relógio à procura da família enquanto ia sendo construída a Barragem das Três Gargantas.
Entrei para a sala entusiasmado mas rapidamente me fui aborrecendo com uma narrativa enfadonha, paisagens desoladas, húmidas, um mundo de homens, de sujidade e de uma cruel modelação da natureza.
Lembro-me de me ter sentido bastante ansioso. Parecia que tinha medo de encontrar alguém e de esse alguém me perguntar o que andava ali a fazer sozinho. A solidão é uma coisa da qual devemos ter vergonha.
O que é facto é que me estava pouco nas tintas para o tal filme chinês. Quando decidira ir sem mais ninguém ao cinema era para ir ver um filme sobre o qual tinha lido no "Y" daquela semana. Pensava que era uma história de amigos em Nova York, mas que esses amigos deviam ter qualquer coisa muito especial, pois o filme era para maiores de dezoito. Pelo que tinha lido no jornal, não me parecia nada de extraordinário mas como devia envolver algumas cenas mais fortes (cinema independente...) tinha vergonha de convidar alguém para vir comigo e depois ficar embaraçado com o conteúdo do filme.
Decidido a vê-lo, lá fui eu na 13 até ao King, num dia qualquer em que não tinha aulas à tarde. No entanto, ao chegar às bilheteiras, fiquei estupidamente com um medo que a senhora me pedisse a identificação e me envergonha-se diante das outras pessoas. 'Faltam-te uns meses, rapaz, esse filme ainda não é para a tua idade'.
Então, olhei para o cartaz e vi que a "Natureza Morta" era mais compatível com a minha faixa etária. Fui só comigo ao cinema, mas não tive coragem para ver o filme que queria.

Vi-o ontem. E acho que fiz bem não o ter visto há dois anos atrás. Não o teria compreendido.

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