quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

"Não acreditas no que eu encontrei junto ao papelão, quando fui deixar as coisas para a reciclagem"

"O que foi, David?"

"Já vês, já vês"

Não estava nada à espera daquilo que vi quando o David abriu o porta-bagagens. Eram gavetas, eram caixas, umas fechadas, outras abertas, eram coisas espalhadas no chão do carro.

Era uma vez um homem ou uma mulher que, durante a sua vida, construiu um dicionário. Não um dicionário comum, daqueles que temos na estante do escritório. Um dicionário em que cada palavra tinha o seu significado explicado numa frase, num provérbio ou numa expressão, retirada de jornais ou de livros, que esse homem ou essa mulher ia lendo com o passar dos anos.

São milhares de tiras em papel de rascunho escritas à mão (já amarelecido, e alguns dos documentos a partir dos quais se fizeram essas tiras estão datados de 1930 e trocó-passo em letra de máquina de escrever), com várias referentes à mesma palavra. A tira onde aparece pela primeira vez a palavra contem os seus significados mais comuns e o tal excerto de jornal ou livro (se foi retirado de um jornais diz "Jornais", se foi de algum livro, tem uma referência em código). Depois seguem-se várias outras tiras para a mesma palavra, só com os excertos.

Nas últimas horas só pensei nestas tiras de papel. Devo ter sonhado com isto, se eventualmente eu alguma vez me lembrasse daquilo com o que sonho. Deu-me vontade de ficar toda sentada no porta-bagagens do David a ler cada tira de papel, todas as tiras de papel.

Ver se trago uma para digitalizar e pôr aqui.

Ana

Sem comentários:

Enviar um comentário